domingo, 25 de fevereiro de 2007

Comunicação, independência, excesso de informação & a nova forma de riqueza e dominação

O ato de comunicar, ou seja, de “tornar comum”, é algo de grande importância desde o advento da espécie humana. Na pré-história, o ser humano, como ser social, precisava descobrir coisas banais como quando a “fêmea” estava no período fértil, onde eram os melhores locais de caça, quais as terras que já foram exploradas e coisas do gênero. Para isto, ele precisava tornar comum às outras pessoas estes fatos. E daí veio à criação das línguas e dialetos; eram, a principio, um meio para atingir determinado fim, um modo de tornar público algum dado, ou seja, o ato de informar. E esta criação foi tão importante que nas sociedades hidráulicas, os escribas, quase sempre, eram considerados divinos e tinham cargos bem recompensados nas organizações governamentais.
Comunicação e informação estão, pois, interligadas desde o advento da homo sapiens como subespécie sapiens, ou seja, desde que deixaram o estado de selvageria e passaram para o de cultura. E assim, foi sendo conforme passasse a história. Porém, a comunicação de informações complexas sempre ficou restrita a um pequeno número de acadêmicos, fossem estes os seguidores de Pitágoras na antiga Grécia, ou formandos das famosas universidades européias no período Medieval e/ou Moderno.
Entretanto, com o advento dos meios de comunicações modernos, isto deixou de existir: um tratado que demora anos para ser comprovado, pode hoje ser lido em questão de minutos quando publicados na Internet ou na revista Scientific American Brasil, tanto faz. E este processo está cada vez mais eficiente e globalizado, nota-se isto quando, ao ligar a TV, podemos ter conhecimento dos fatos que envolvem o mundo.
Não se pode esquecer jamais que nenhuma informação é 100% pura, além daquela que nós mesmos refletimos e tornamos um conhecimento. Toda informação de momento é fabricada por alguém, geralmente da grande mídia (TV, rádio, sites que dependem de recursos advindos de patrocinadores e diversos outros) geralmente contendo alguma influência de quem patrocina, normalmente advindo da elite.
As pessoas não param mais para pensar, tamanha quantidade de informações inúteis às quais são bombardeadas diariamente. Isto é de interesse particular de quem domina, considerando que só quem pode dominar é quem obtém o conhecimento reflexivo, pois este se auto-alimenta, já que depende apenas do próprio pensamento. Desta maneira, pode-se afirmar que só quem pode se considerar realmente livre e/ou independente, é quem, além de conseguir uma determinada condição de vida que lhe garanta o essencial mais algum conforto, pode criar conhecimento a partir das informações selecionadas e comunica-las.
Portanto, identifica-se um novo modo de dependência nessa nova era: A da dependência intelectual, onde as pessoas acabam necessitando dos dados fornecidos pela grande mídia, pois concordam plenamente com as análises que venham a ser feitas ou divulgadas por ela.
Mas, a dependência é comum e, de certa forma, inerente às povoações humanas, pois tem mudado somente o tipo pelo qual se faz. No início, antes do advento do registro da comunicação, e até um determinado período depois, mais ou menos até a antiguidade clássica, a dependência entre as comunidades se faziam mais fortes à coercitiva—pela força. Claro que existiam todas as outras formas de dominações, mas esta era a mais forte. Durante a Idade Média, foram as terras que mais contaram, pois a riqueza era contada pela medida das terras arrendadas. E nos períodos de Modernismo, capitalismo e, até alguns tempos atrás, de neocapitalismo, o que mandava era o capital monetário, nações subjugavam umas às outras pelo poderio econômico.
Não devemos, então, temer essas mudanças na forma de dominação, mas sim compreendê-las e usá-las, fazendo com que o principal ativo que renova o poderio econômico a cada mudança, seja valorizado e renovado. Assim foi quando do advento das sociedades antigas e belicosas (os guerreiros eram muito valorizados), das sociedades onde a terra era primordial (os donos das terras guerreavam muito por elas), onde o comércio era extremamente desenvolvido (comerciantes tinham privilégios), quando industriais produziam artigos em massas (as indústrias passaram a ser indicadores de progresso).
Quando adentramos em tempos mais recentes, vemos que leis e juristas foram revalorizados, pois quem detinha o poder eram membros dos governos, pessoas que trabalhavam com leis. Ultra recentemente somente, é que se percebeu que a informação é uma forma de poder mais eficientes, e a habilidade de comunicá-la e manipulá-la de forma a se tornar imperceptível essa manipulação é o que torna possível a perpetuação deste poder. E quem cria este novo tipo de capital, o intelectual? Quem pode produzir conhecimento? O ser humano.
Por isto, é mais que revisto que profissionais precisam ter como um de seus pré-requisitos a criatividade, para poderem criar as tecnologias, e, se forem de boa índole, usar o poder adquirido através de muito estudo para evolução da humanidade. Se não, infelizmente, teremos uma nova guerra, desta vez, mais oculta que as outras: a guerra dentro da própria pisque humana, que lutará bravamente para negar a realidade que lhe é criada de forma a dominá-la.

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