sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Relação: materialismo, egoísmo e ateísmo

Antes de qualquer coisa, é preciso raciocinar como raciocinaria um ateu:

Oras enquanto apenas considero a matéria como verdade proeminente, sendo que se eu não for visto fazendo algo errado, eu não serei punido, então abrem margens para que eu faça algo contra a lei e a moral. Sendo assim, posso pensar apenas em mim mesmo e fazer exatamente tudo pensando em mim. Pelo simples fato de "eu" ser o meu próprio fim e esse eu ser pleno em si mesmo. Eu este que é falível, pela própria natureza humana, dotada de um frágil sistema de conduta. Como diria Freud: um homem mau por natureza...
Ou seja, enquanto materialista, crendo apenas no que vejo e egoísta, fazendo tudo apenas por e para mim mesmo, logo estaria sendo verdadeiramente ateu; porque assim estaria negando absolutamente todos os valores espirituais existentes. Ou seja, acaba-se portanto, criando uma aura pertinente ao ateísmo que é de extrema oposição aos propósitos de humanidade.

Então, tem-se a relação:
Claro que isso não se aplica a todos os ateus. Há pessoas que negam Deus por simplesmente se acharem muito inteligentes para isso, ou então por virem a tremenda hipocrisia que acontece em algumas instituições religiosas. Esses, podem ser de fato ateus... Mas os verdadeiros ateus são aqueles não apenas negam Deus, mas aqueles que agem contra os ensinamentos que vêm dEle pelas mais diversas religiões. Ou seja, os criminosos de colarinho branco, os sacerdotes corruptos os políticos que adentram em guerras mortais; os empresários que danificam o meio-ambiente e não pensam na sustentabilidade; cientistas que modificam geneticamente animais ou sementes e monopolizam para si, basicamente todo a plantação nos campos por meio de royalties e sendo que em muitas vezes, transgênicos nem são tão eficazes; senhores que contaminam a água, o solo e o ar usando venenos para matar pragas, mas que acabam matando humanos; gente que acaba com uma vida, mesmo antes dela ter vindo... Todos eles, mesmo que se auto intitulem de qualquer agremiação religiosa.

3 comentários:

NOnoNono disse...

Oi Henrique,
sou ateu existencialista e não penso que "já que deus não existe, tudo é permitido". A existência tem as suas próprias regras para a felicidade. Quem se pauta por elas, não há de fazer tudo o que dá na telha.

Anônimo disse...

Antes de um comentário mais profundo, só pra não esquecer de mencionar: Kierkegaard inverte a lógica. Se Deus existe, tudo é permitido - porque uma vez que você está às ordens dele, a moral dos homens não signfica nada, pode ser ignorada em favor de uma verdade superior.

Anônimo disse...

"Como diria Freud: um homem mau por natureza..."

Ok, vou começar pela ponta mais fraca da corda; já se sabe há algum tempo que Freud, bem, não merece toda o crédito que possui, i.e é um hype.

"Ou seja, enquanto materialista, crendo apenas no que vejo e egoísta, fazendo tudo apenas por e para mim mesmo, logo estaria sendo verdadeiramente ateu; porque assim estaria negando absolutamente todos os valores espirituais existentes. Ou seja, acaba-se portanto, criando uma aura pertinente ao ateísmo que é de extrema oposição aos propósitos de humanidade."

Como diria Mark Twain, seu raciocínio é perfeito - suas premissas é que estão erradas.

Eu nego todos os valores religiosos. Mas como defino valores religiosos? A grosso modo, diria que valores religiosos são as virtudes a serem desejadas por causa de deus. Ou seja, eu faço tal coisa porque é isto que devo fazer, assim me diz deus - isso considerando apenas o impulso para fazer coisas, e não o contrário, ou seja, não faço isso para deus não me punir.

O que ocorre é que um materialista considera a matéria. Mas uma pessoa é feita de que? Matéria. Eu passo a considerar meus familiares, meus amigos, as pessoas que conheço e eventualmente as que desconheço.

Esse é um erro muito comum. Por que a única coisa que me prende a coisas boas seria a obediência a deus? Quem pensa assim JÁ É egoísta antes mesmo de ser ateu. Eu gosto dos meus amigos, de verdade. Meu relacionamento com eles muda quando passo a não acreditar em deus apenas à medida em que:

1) deixo de fazer alguma coisa que fazia antes por causa da minha crença, passando a considerar apenas as conseqüências que minhas atitudes terão neles e em mim (não um motivo transcendente pra fazer isso)

e 2) Passo a fazer algo que não fazia antes por causa de minhas crenças, passando a considerar apenas as conseqüências que minhas atitudes terão neles e em mim (não um motivo transcendente pra não fazer isso)

Ou seja, se a pessoa realmente passa a tratar os outros como se fossem apenas escadas para seus objetivos quando viram ateus, sinceramente, não vejo como a pessoa não seria assim antes de ser atéia. A idéia de um deus punitivo (ou mesmo de uma comunidade punitiva) apenas a reprimia, a impedia de fazer isso, nada mais. Pode significar muito pra quem não sofre TANTO a influência de uma pessoa que quer ser assim manipuladora e nem liga pras pessoas, mas e a própria pessoa? Como ela se sente? Continua querendo manipular, tratando como simples servidores que irão proporcionar-lhe o que ela quer, se devidamente convencidos de coisinhas aqui e acolá. Ou seja, pra ela tanto faz, com repressão ou sem repressão ela se sente do mesmo jeito. Ela É do mesmo jeito.

Então, desculpa pelo overkill aeHeaHeaHeaHeAHeAHeA mas tá, resumindo: não, isso descrito aí não é ateísmo, é egoísmo ou mesmo sociopatia.

By the way, consigo imaginar muito mais facilmente um religioso fazendo várias daquelas coisas ali embaixo do que um ateu ;)