quinta-feira, 26 de março de 2009

Suicídios em Curitiba

Bem,o que vejo em Curitiba é um bando de pessoas apáticas, com feições sisudas, como se sempre preocupadas com a vida, com alguma inquietação fundamental sobre a ontologia da própria vida, ou mesmo algo mais trivial como o tempo que está na maior parte das vezes cinzento e quando não está, permanece instável - o que já criou rios de piadas pela internet. E vejo que a mídia aqui é algo extremamente 'eficiente'. Os joguinhos são clássicos: é a rede de TV estatal acobertando que mais pedágios estão sendo criados (situação radicalmente antagônica e paradoxa ao que o governador queria), e a rede local da Globo (chamada: Rede Paranaense de Comunicação - RPC), acobertando que ocorreu mais um suicídio (pois a rede de ensino na qual aconteceu tal fato é credora dessa tal rede), para aumentar o indíce de suicídios na capital que vem se tornando uma das mais violentas do país, em termos de mortes percentuais. Mas isto, ninguém fala. Bá, mas no Rio de Janeiro, deve acobertar os indíces de balas perdidas, em São Paulo, os níveis de poluição diários e etc. Ou será que eu tô errado? Bem Curitiba não passa de periferia da periferia: tudo que acontece aqui, também acontece nas outras grandes cidades, suponho, mas aqui ocorre de maneira bem mais contrastante e menos complexa, porque o número de habitantes é bem menor.

E nesse ínterim, me lembro de uma professora minha, de negociação, explicando a turma sobre a educação das pessoas e como os filhos são influenciados pelos pais. Simples assim. Os pais tendem a dar o oposto da educação que tiveram, o que se reveste em gráficos cíclicos entre a moralidade obsessiva e a libertinagem insana. Mas não é apenas isso: parece que um pouco do caráter dos pais acaba transpassando para os filhos. É meio como se fosse um processo osmótico, pelo motivo que os filhos acabam se espelhando nas ações de seus predecessores, ou então por causa de algum fator genético que acaba impulsionando o sujeito a agir de maneira correspondente.

Isso acaba por trazer a chave da questão: adultos estressados, apáticos e frustrados, passarão os mesmos sentimentos aos seus filhos, em maior ou menor grau, dependendo da maneira pela qual o filho pensa. Podendo, no final das contas, o guri ou guria não concordar com absolutamente nada dos que os pais diziam, tentando agir de modo diametralmente oposto à maneira como seus progenitores agiam, ou então acabam por ter essas mesmas características amplificadas devido a pouca idade e imaturidade correspondentes.

Se um adulto estressado e apático já tem resquícios de comportamentos maníacos, obsessivos, compulsivos e depressivos, imagina então um adolescente com um turbilhão de imagens e hormônios fervilhando em sua cabeça. Em um mundo à parte, destituído de certa afeição necessária, tendo apenas imposta sobre si a responsabilidade que naturalmente não lhe é devida, podendo trazer, dessa maneira, ódio e rancor reprimidos, estes, por sua vez, se manifestam contra as outras pessoas, ou contra si mesmas.

É, essas considerações vieram como flashes na minha cabeça, logo após a descoberta do suicídio de uma menina de 14 anos num colégio particular de classe média/alta daqui do centro de Curitiba. Bem, eu sei que tudo isso pode não ter valia alguma: os motivos exatos do suicídio não podem ser conhecidos pela mero raciocínio lógico, exigem exames mais aprofundados. Mas essa situação psicológica se repete em milhares de estudantes mundo afora.

Mas agora, lembrei de uma outra professora minha, se psicologia organizacional, falando sobre preconceito e estereótipo. Então, como o que estou dissertando aqui se baseia em um conceito pré moldado, numa base estereotipada daquele grupo social, então minha reflexão a partir da agora pode não ter valor algum, como ser a mais pura verdade: bastam provas.

Então, com a condição psicológica da educação já expressa, é somada a cobrança social natural por resultados. Muitos pais querem ver em seus filhos pelo menos duas coisas: em primeiro lugar uma versão 2.0 de si próprios, ou seja, indivíduos parecidos com si mesmos mas com idéias mais abertas e mais oportunidades, em segundo lugar: que não seja apenas isso, que seja o melhor dentre os que estiverem ao seu redor, o que pode ser resumida pelas máximas do Ayrton Senna: "o 2º lugar é o primeiro perdedor" mais a outra popular: "você tem que tirar 10, meu filho..."(geralmente acompanhada por táticas de coação que dão um incentivo extra para que o adolescente se "empenhe"). Além disso, aqueles que não conseguem acompanhar a turma intelectualmente falando - até se forem avançadas à mesma - são hostilizados e marginalizados tanto pelas regras tradicionais - por não criarem mecanismos de auxílio a esses jovens-, como por professores que acabam ou fazendo testes especiais para os que estiverem à frente e humilhações e ofensas gratuitas para os que tiverem dificuldades, como pelos colegas, que podem acabar vendo a "ovelha negra" como um peso na própria turma.

Porém, isso é natural dos pais. É natural que um pai queira o melhor para os seus filhos dentro da vigência daquela determinada sociedade. E é natural que cobrem. Como é -pior ainda!- natural da sociedade o desrespeito à individualidade: ao tempo que cada sujeito necessita para cada descoberta em sua aprendizagem. Estabelecido um padrão, este deve ser seguido eternamente enquanto houver mentes doentias o suficiente para mantê-lo.

E essa cobrança é em geral tão grande que não me admira que tal fique impregnada no sujeito ao ponto que ao sinal da primeira frustração se tenha os resquícios de depressão, já passados pela apatia e frustrações paternas/maternas, ampliados. Como se tivessem cavado um buraco mais fundo para se enterrarem ou então posto o dedo na ferida com o intuito de abrirem ainda mais e não de se sanarem.

Agora eu imagino a situação dessa garota que se matou. Não é fácil tentar entender um suicídio, ainda mais de pessoas que têm tudo. Lembro-me de amigos comentando que no ano passado já houve casos de adolescentes que se mataram e eu complementando que esse processo todo é cíclico: ou seja, todo ano, enquanto os próprios sujeitos paternos/maternos mantiverem essa cobrança absurda, que, infelizmente, é também imposta pelas necessidades econômicas, as pressões de mercado, etc.* Haverá garotos tomando overdoses de cocaína em inofensivas festas de Halloween,jovens fumando Cannabis Sativa como se tomassem água, adolescentes bêbados... E meninas que se matam no banheiro da escola porque levaram o pé do namorado ou então tem ódio descomunal de algumas das amigas delas, ou ainda são rejeitadas pelos que estão ao redor, ou ainda pior: perderam o gosto pela vida frente a uma sociedade hipócrita e corrupta em que pais cobram de filhos aquilo que nem eles mesmos conseguem suportar.

Enquanto isso, os curitibocas (como dizia um professor meu de geografia: "Curitibanos+bobocas"=Curitibocas) estão comentando sobre o jogo do Athlético-PR, a derrota do Coxa para o Londrina (time rebaixado no campeonato estadual). Sobre as provas do outro dia, ou como seria legal se o Sul fosse separado do resto do país, como seriam ricos sem ter que pagar tamanha carga tributária para a manutenção de uma máquina estatal falida,**. Ou ainda, algo mais trivial: falam sobre o tempo.

Ah, mas afinal, o que será uma revolução se não, no sentido restrito, o homicídio de uma sociedade pela própria sociedade? ou melhor dizendo, o suicídio de um mundo corrupto, para a criação de um novo? Legalmente, suicídio é algo anômalo, pois fere uma lei que diz que é proibido matar, mas está sobre outra lei dizendo que você tem liberdade irrestrita sobre você mesmo. No entanto, o que se precisa é uma mudança radical, uma morte desse comportamento. É necessário que cada ser humano suicide seu lado suicida, junto com seu lado mais arrogante, apático e restrito para que esse ciclo não seja novamente alimentado.

*Pois muitos pais e professores argumentam apenas simularem a cobrança feita pelo mercado sobre eles. Aliás, aproveitando o parênteses: grande entidade Mercado: vem assumindo papel de segunda pessoa de uma nova trindade do capitalistmo moderno: Capital, Mercado e _________, bem o anticristo se revelerá nos próximos anos :D

**(Estado) que garante a sub-existência de pessoas pobres no Nordeste, pessoas que para muitos deles, deveriam ser largadas a própria sorte, sendo que nem têm escolas boas os suficiente para que possam se educadas para fazer melhor lá o que se faz mal e porcamente cá: desenvolvimento social e humano.

12 comentários:

Tuuuxa disse...

Meu vizinho se matou em janeiro, tinha 18 anos e se jogou do 8º ou 9º andar, na Doutor Pedrosa... e NINGUÉM comentou o assunto. Estranho isso.

Anderson Cristiano da Costa disse...

Gostei do texto. Hoje parece existir algo como uma "cegueira" que não deixa as pessoas verem os acontecimentos trágicos cotidianos.

Receio não ter compreendido o comentário deixado por você em meu blog. Não sou anarquista, tampouco copiei algo seu. Eu escrevo poesia, e não tenho a intenção de me envolver com política ou religiões; escrevo apenas aquilo que sinto num determinado momento. Às vezes sai algo como o Texto “Nênia primeira... contra o poder”; esse texto nada tem a ver com minhas concepções políticas ou religiosas, é apenas um texto que tenta expressar um momento que experienciei.
Todos os meus escritos estão registrados no Escritório de Direitos Autorais ou em processo de registro; portanto, achei curiosa sua insinuação de plágio. Desconhecia por completo seus escritos, só os encontrei agora, quando vi seu comentário. Mas obrigado pela atenção, é sempre bom despertar polêmicas.
Gostei da visita.

Anderson Cristiano da Costa disse...

Ô meu caro,

Valeu pelas visitas ao meu blog, e pelos comentários. Desconsidera o meu comentário anterior, era apenas uma forma de chamar sua atenção. Mas, enfim, acho que vamos nos entender. Até mais.

Anderson Cristiano da Costa disse...

Esqueci de dizer,
Pode citar-me quando quiser, eu até aprecio. Quando tiver oportunidade citarei você também, gostei deveras de seu modo de pensar. Visitarei seu blog de poesia, pode crer.
Até.

Unknown disse...

É normal não noticiarem suícidios
para que a midia não sirva como incentivo a potenciais suicidas.
Quem sabe um pouco que seja sobre jornalismo sabe disso..
No mais pura bobagem e "anti-curitibanismo". Não sou curitibano, mas moro em Ctba e penso que o que
mais existe é estereotipo e inveja.
Saudações

Anônimo disse...

De pleno acordo sobre a cultura da aparência que reina nesta cidade. Hipocrisia é a palavra de ordem num lugar em que a religiosidade, com novenas e procissoes, esconde o maior índice de puteiros do sul do país, para se aliviarem os pecados dessa gente tao religiosa. A violência parece ser uma coisa que não existe para os curitibanos, a não ser quando ele é assaltado - aí, fazem passeata exigindo paz e justiça. Em Curitiba, o índice de homicídios por cem mil habitantes é mais alto do que os de SP e RJ. A Gazeta do Povo, folhetim da província, não noticia isso, nublando a cegueira de egocentrismo desse povo. Ah, curitbanos, como poderiam ser alguma coisa, começando por CU e terminando com ANOS... Cinza, sim, sem conhecer ~bom dia~, ~obrigado~, ~da licença~ É o povo mais mal educado do Brasil. Basta ver seus motoristas...

Anônimo disse...

eu moro em curitiba e estou pensando em me matar

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu

Anônimo disse...

SE CURITIBA EH TAO HORRIVEL VAO EMBORA DAQUI!!!

Anônimo disse...

eu reclamei de curitiba 20 anos, o tempo que morei ai, hoje moro em sta catarina e o povo daqui é preconceituoso, grosso e tal. ou seja, nao existe situacao perfeita, nem povo perfeito. O que é bem complicado em curitiba é que ninguem olha pra vc, ninguem percebe vc, pessoas sao indiferentes, isso eu nao vi em sta catarina, nao vi em lugar nenhum, só ctba tem essa indiferença com seus cidadãos. e ainda tem um idiota que diz, VAO EMBORA! ta cagando e andando pro problema da propria cidade. é um curitibano tipico, sem consciência de porra nenhuma

Anônimo disse...

cidade que vive de aparência...

Anônimo disse...

Vdd ai tem que ter carro. Casa com piscina para que t traten con respeito. Tem que ostentar, o povo e arrogante. Sou curitibana, mas por nao adaptarse agora moro na Espanha(Barcelona) muito mais animada e as pessoas sao mais receptivas e nunca sofri racismo. Isso que estamos falando de europeus que podiam ostentar. Isto e a mentalidade. Aqui se vc tem uma bici ou uma moto e tratado igual que a uma pessoa que anda de.porshe. entao vamos comecar a tratar as pessoas com.dignidade porfavor curitibocas