quarta-feira, 9 de junho de 2010

Catarse artística: a base da crença

Todos já pararam pra pensar: "da onde que vêm obras tão magníficas como as que vemos em galerias de artes?" ou então: "por que o autor fez a obra de modo tão abstrato que cada um compreende de cada jeito, do jeito que quiser?"

A base da resposta está na crença. É, pois é. A crença é a base da arte. E digo mais, há uma diferença gritante entre a arte convencionada e arte genuína, a arte que os filósofos chamam de arte e o que conseguimos de artístico.

Deixe-me explicar. A catarse é um dos momentos em que o ser humano consegue entrar em "comunhão" com o "todo". É um estado já bem definido por Aristóteles como "purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama."

Muitos estudiosos de arte tentaram-na reduzir a escolas, movimentos, modelos e maneiras de como ela pode ser compreendida, sendo simplificada a fatores comuns nas obras. O que é um mero e pontual engano, porque toda boa obra tem por objetivo primeiro à catarse, que nos levaria à profunda reflexão individual, fazendo-nos a obter, até mesmo, uma mudança de comportamento.

E esta catarse é um estado que se atinge a todo momento, em maior o menor grau. Diria que é desde o simples vislumbramento com a Natureza, até a compreensão exata da grandiosidade da existência de YHVH. Todas elas são catarses. E nisto que se baseia toda a poesia, na tentativa constante de criar catarses, num mix de sensações que você não pode compreender se simplesmente reduzir à razão aquilo que lê. Porque artes tem a mesma essência que a religião: provém de catarses relacionadas à natureza e ao mundo em que nos rodeia.


Na verdade, quando redigi este texto, estava pensando naquelas pessoas que insistem em negar a poesia da vida humana. Sabe como? Aqueles uns que acham que toda arte pode ser reduzida ao número limitado de regras e que se esquecem que ela é paralela à crença primordial... Aquela crença que os xamãs tinham nas florestas, que chefes de tribos adoravam, que os japoneses mantém por tradição e respeito, talvez até por sinceridade.

Por isto que se usava, em tempos passados, a arte muito ligada sempre à temas religiosos. Contudo, quando há esta separação nos tempos modernos, acontece que muitas pessoas se esquecem das origens da arte e a utilizam de modo egoísta, dentro de preceitos lógicos ou passíveis de explicações baseadas em sentimentos. O que dá no mesmo...

Ou seja, eles retornaram, sem querer, à tentativa de promover catarses, ou limpeza de pensamento nas pessoas, numa tentativa desesperada de chocar, de tirar do comum. E isto é visto em toda forma de artes contemporâneas: esculturas, pinturas, gravuras, poemas...

E, o melhor desta época, é a releitura da "poesis" (que escrevo errado de teimosia), numa superação da arte como algo factível... Mas no encontro, algumas vezes, com o transcendental, MESMO por meio de obras altamente racionais e pensadas - como são alguns concretistas, ou futuristas.

O Dadaísmo, na sua ilogicidade, na verdade se torna nem muito antiarte: é, na verdade, a expressão máxima da pessoa humana contra um negócio sufocador que é a vida no mundo moderno. E esta expressão pode produzir catarses, mas, neste caso, remonta muito ao que era aquela coisa do xamã, porque a catarse se torna pessoal e quem vir aquilo, não lerá mais do que um punhado de palavras sem sentido, pois está preso num mundo impregnado de razão.

E por isto creio, estipulo, basicamente, que a catarse artística é a base da crença. Porque é ao sentir a poesis no mundo é que há uma um encontro metafísico com algo maior, que permeia e orienta toda a existência.

A arte, portanto, é apenas um meio para achar um resquício (poesis) presente e impregnada em todo o tempo e espaço, quando há uma catarse neste viés, é que a crença em algo se consolida.

Muitos ateus dirão: "Mas eu não creio..."

Aí que eles se enganam: tiveram uma catarse na própria vida, só que indicando o oposto das correntes predominantes. Ou seja, eles perceberam a poesis no mundo como negação de Deus e um apelo às próprias habilidades, ou à ciência.

E daí que surge também a mitificação da ciência. O que é errado, do ponto de vista racional, científico, filosófico...